quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Verão



Embalada pelas ondas,
embrulhada em nevoeiro
sinto o Verão a fluir.
Esqueço sombras,
lembro sonhos
e volto a existir.



*Setembro2002

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Madrugada



No azul que amanhecia
encontrei sinal de ti,
procurei-te no vazio,
tacteei os teus contornos,
enchi os sonhos de beijos,
acendeste os meus desejos
e, finalmente, vivi.



*Setembro 2002
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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Descoberta



Descubro-te
em cada letra que escreves.
Adivinho
aquilo que não dizes.
Pressinto
o que não é visível.
Imagino-te.
Através de um mar de letras
prossigo a descoberta,
ouço o eco do pensamento
nas notas de um violino.
Tacteando no escuro
descubro os teus contornos.
Pássaro ou nuvem,
és tu.

* Agosto2002

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Surpresa




Surpresa!
Azul, de novo?
Azul de esperança,
tonalidade irreal
do imenso arco-íris.
De novo o fá e o sol
para compor a sinfonia,
ponte que liga em altura,
atravessa o desalento
e conduz ao infinito.
Palavras que se conjugam
e soletram com sentido.
Porque teima em renascer
o sorriso esquecido?
Surpresa!
Presente inesperado!
Foste tu que o trouxeste?
Aceito-o a medo e...
abro!



*Agosto2002

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domingo, 6 de janeiro de 2008

Naufrágio II



No silêncio absoluto,
no azul imenso, imóvel,
repousa agora o navio,
entre rochas e mais nada.
O naufrágio anunciado,
temido, inevitável,
finalmente aconteceu.
O navio está no fundo!
Olha em volta, devagar,
passado o primeiro embate,
e reconhece contornos,
ausência de sensações,
o nada.
Desfeito em mil pedaços,
perdida a roda do leme,
não existem soluções.
Baixa os braços, fecha as asas
e tenta adormecer.
Uma coisa o incomoda
em todo este silêncio
de sinfonia perdida,
de música que ninguém faz...
o navio não encontra
a ilusão prometida
de uma maré de paz.


*Julho 2002

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Naufrágio



Noite escura, tenebrosa,
vagas altas, incessantes,
o navio segue a custo
o seu navegar errante.
A tempestade aumenta,
cai a chuva em catadupas,
não se vê um palmo à frente.
Céu riscado pelos raios
das incertezas da vida,
os relâmpagos fazem crer
que a noite fechada é dia.
E, a cada ribombar
da terrível trovoada,
o navio fecha as asas,
feitas de espuma e esperança.
Lá longe, à sua espera,
existe um porto seguro,
mas é tão grande a distância,
tão difícil o caminho,
que o navio desespera
e chora, muito baixinho.
Ele bem olha, na crença
de encontrar barco amigo,
mas não há nada que vença
a tormenta do destino.
E, a pouco e pouco, desiste,
cansado de tanta luta.
Cada onda é mais forte,
para ele que está exausto.
Só lhe resta entregar-se
aos braços da sua sorte.
Como um último apelo
acende ainda uma luz.
Talvez haja alguém a vê-lo...
Nada! Só o bramido do mar
lhe responde.
E, nessa imensidão,
feita de vento e raiva,
o navio vai ao fundo.
Leva consigo aquilo que já sentiu:
o azul do céu a brilhar,
as gaivotas mergulhando
em busca de alimento.
O navio vai descendo...
Fica pousado na areia,
entre rochas e corais
e, no silêncio azul,
que finalmente o rodeia,
encontra o que nunca teve...
um leve vestígio de paz.
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*Julho 2002